Corria o ano de 2004, e em uma pequeno bar no número 420 da Rua Caiubi, no bairro de Perdizes, na capital paulista, um movimento musical nascido ali naquelas mesas e regado a muita cerveja e diversão, solidificava-se em festas e saraus de casa sempre cheia.
Nascido havia dois anos, o Clube Caiubi de compositores e suas então já famosas Segundas Autorais atraíam a atenção do público alternativo de música popular brasileira pelo alto nível das canções apresentadas em seu palco aberto nas noites de segunda-feira
Cria de Henrique Barros e Lis Rodrigues juntos a alguns amigos da PUC – o boteco ficava a poucos metros da universidade -, o Caiubi tinha um conceito simples: toda segunda, autores se reuniam revezando o microfone e apresentando canções próprias, parcerias ou canções de outros que não estavam no mainstream, longe das rádios e grande mídia. A ideia, apesar de longe de ser original, encontrou um chão fértil em meio à notável criatividade e extrema camaradagem entre os compositores.
Em torno do formato open mic um pequeno movimento musical se estabeleceu. Um cenário que teve seus próprios hits e ídolos e que só não teve início, meio e fim porque ainda hoje, mais de dez anos depois, as segundas continuam a pleno vapor com a mesma energia daqueles tempos.
O sucesso das Segundas Autorais e o zum-zum-zum que circulava pela internet, em uma era pré-Facebook, em que as redes sociais se limitavam a grupos de email, acabou atraindo para o movimento alguns consagrados autores da música brasileira. Nomes como Luhli, Tavito e Zé Rodrix eram figurinhas carimbadas em diversas festas do Clube
Com o surgimento de diversas parcerias musicais, a turma ensaiou passos maiores e shows em teatros e casas tradicionais da noite paulistana. Sucederam-se shows coletivos no TUCA, Supremo Musical, Teatro Crowne Plaza, Espaço Cachuêra, Centro Cultural São Paulo, além de um sem-número de shows individuais na própria sede do clube ou em outros espaços.
Clube Caiubi no Festival da Cultura
No embalo do sucesso local de público e de seus pequenos hits, o Clube tentou a sorte no grande evento televisivo de música brasileira de 2005: O Festival da Cultura, capitaneado por Solano Ribeiro, veterano dos lendários festivais de televisão do final da década de 1960.
Apesar de ter apenas um dos compositores de seu núcleo classificado, veio dali o maior hit do clube, e do próprio festival: A canção Classe Média, de Max Gonzaga, crítica mordaz aos valores pequeno-burgueses, viralizou com centenas de milhares de visitas no site de vídeos YouTube além de muitas outras impossíveis de serem contabilizadas, com o vídeo circulando como anexo de emails.
A fuga das Perdizes: caindo no mundo (real e virtual)
O Clube trocou de endereço em 2006, passando a ocupar as noites da nova casa Vila Teodoro, parceria do músico e poeta Vlado Lima, do produtor Henrique Barros e do jornalista Mauro Dias. Noites memoráveis de grande música autoral foram registradas no novo espaço, agora em Pinheiros. A partir do ano seguinte a casa passou a ser o novo endereço do clássico espaço paulistano de música brasileira independente, o Villagio Café, com a entrada do produtor e empresário Zé Luis Soares no negócio. Com o fechamento definitivo da casa (e sua demolição para construção de um estacionamento) em 2009, o clube seguiu seu roteiro itinerante pelas casas noturnas paulistanas, com destaque para o cult Novo Lua Nova, no Bexiga, e para o Julinho Clube, em Pinheiros, lugar onde, passados mais de dez anos de seu surgimento, seguem as tradicionais Segundas Autorais em alto estilo, sempre com novos compositores mostrando suas canções.