-Escuta, é aqui que fica o puteiro das universitárias?
Era a segunda ou terceira vez que Zé Rodrix aparecia no Clube Caiubi. Fora trazido pelo Sonekka, de quem era amigo da lista M-Música – grupo de troca de e-mails criado pela carioca Nana Soutinho, que unia centenas pessoas ligadas à música -, para que fosse homenageado em uma Segunda Autoral. E acabou virando amigo, produtor, diretor e curador de vários projetos que por ali rolaram.
Espécie de Forrest Gump da melhor música brasileira da segunda metade do século XX, Zé Rodrix esteve presente em vários momentos definidores: estava no palco acompanhando Edu Lobo quando este levou o badalado Festival da Record de 1967, ajudou a fundar o rock nacional dos anos 70 com o grupo Som Imaginário, estava presente no começo do Clube da Esquina, compôs, junto ao parceiro Tavito, um dos maiores sucessos de Elis Regina e da MPB, a canção Casa no Campo, semeou, já no trio Sá, Rodrix e Guarabyra, o novo folk nacional – batizado Rock Rural -, participou das gravações do disco de estreia da banda Secos & Molhados (por muitos considerado o maior disco do pop-rock brazuca), integrou o grupo de humor-rock Joelho de Porco e teve uma carreira solo de grande destaque ao fim da década de 70, sendo assíduo frequentador dos programas populares de TV da época. Trabalhou com publicidade, fez cinema e dirigiu musicais de televisão.
Max Gonzaga apresenta sua Classe Média no Festival da TV Cultura 2005 com Zé Rodrix nos teclados e a “invasão laranja” do Caiubi na platéia.
Em conversas, comparava o Clube ao criativíssimo Grupo Manifesto, que nos anos sessenta reunia nomes como Lucina, Guarabyra e Guto Graça Melo. Pouco tempo depois de sua chegada, o Caiubi embarcou em um show triplo no Supremo Musical, extinta casa de shows da Rua Oscar Freire, no Jardim Paulistano. Seguiram-se duas noites de shows coletivos no TUCA, o teatro da PUC, e outras quatro noites no Teatro Crowne Plaza. Seu discurso pregava ética – Zé não participava de projetos financiados por leis de incentivo fiscal, defendendo que o dinheiro público não deveria bancar a aventura de uns poucos – e a amizade acima da arte e dos artistas. Seu lema “Primeiro as amizades, depois as canções, depois os artistas” guiou várias decisões ali no Clube.
Zé conviveu com os amigos do Clube Caiubi por anos, até sua precoce morte em 2009. Tocou em um sem-número de Segundas Autorais, fez diversas parcerias musicais com integrantes do Clube como Sonekka e Álvaro Cueva e em seu último show solo, quando se apresentou com a Jazz Orquestra de Santos, incluiu no repertório canções de compositores do Clube – Cachorro Louco de Max Gonzaga, Fortaleza da Solidão de Rica Soares e Nunca Senti Tanto Medo de Ser Feliz, parceria sua com Sonekka. Desenvolveu ainda, junto de pessoas ligadas ao clube, outros projetos como o piloto de um programa radiofônico chamado A Casa Do Zé.
Zé Rodrix e a Orquestra Jazz Sinfônica de Santos interpretam Fortaleza da Solidão do caiubista Rica Soares, que integrava o repertório de seu último show solo.
Sua súbita partida deixou um vácuo impossível de ser preenchido. Restaram diversas homenagens, algumas delas organizadas pelo próprio clube, e seus valores e ensinamentos que ficaram plantados nos corações e mentes daqueles que com ele conviveram.