Badi Assad Encantadora

Hoje vamos de 30 Anos de Olho de Peixe (independente), o novo CD da paulista de São
João da Boa Vista (SP) Mariângela Assad Simão, a grande cantora, compositora e
violonista Badi Assad.

O álbum foi gravado com a Mundana Refugi, orquestra formada por músicos
imigrantes e refugiados de diversas partes do Brasil e do mundo, dirigida por Carlinhos
Antunes. Os arranjos são divididos entre Daniel Muller, Danilo Penteado, Maiara
Moraes, Pedro Ito e Rui Barossi, Badi Assad e Carlinhos Antunes.

Num proveitoso exercício musical, escutei as oito músicas do disco, intercaladas
com a audição dessas mesmas músicas já gravadas por Lenine e Suzano no seminal
Olho de Peixe (1993), produção de Denilson Campos.

A pulsação do arranjo de “Leão do Norte”* (Lenine) vem atraída pela levada
criada por Suzano e Lenine em seu álbum icônico. Badi canta como se sua garganta
fosse o único jeito de se dizer verdades (e quem poderá dizer que não?). Abrindo vocais
e tendo o som do pife a lhes dar ainda mais pujança, as verdades soam com a força
nordestina que desce e se espraia pelo Brasil.

“Caribenha Nação/Tuaregue e Nagô” (Lenine e Bráulio Tavares) inicia com
vocal aberto à capella. O ritmo pulsa malemolente. Com a voz dobrada a uma voz
masculina, Badi vem emocionada e voa até que o suingue reforce sua intenção de
enfatizar a ancestralidade da negritude, tema da letra de Tavares.

“Acredite ou Não” (Lenine e Bráulio Tavares) tem Badi entregando de si tudo
o que leva sua voz a dar vez ao arrebatamento de seu canto. A percussão é poderosa.
“Gandaia das Ondas (Pedra e Areia)” (Lenine): assim como fez Lenine, Badi
canta à capella, afinada que só. A percussão vem se achegando levinha. Efeitos
instrumentais soam aleatórios. A harmonia da canção enseja o intermezzo de guitarra,
sopros e vocalizes, empoderados pelo reverber bem utilizado. Lindo arranjo!

“O Último Por do Sol” (Lenine e Lula Queiroga) chega suingado e pujante
pelos sopros. O arranjo arrefece um pouco e Badi surge altiva, elegante. Ouve-se o
intermezzo arritmo do violão. Vocalises puxam o final.

“O Que É Bonito” (Lenine e Bráulio Tavares) tem uma percussão delicada,
seguida pelo sax soando bonito. A música fica ainda mais bela na voz de Badi, que
entoa a sensibilidade da letra. Ao sabor de vocalises e de improviso nos sopros,
sustentados pela percussão, vão ao final.

“Escrúpulo” (Lenine e Lula Queiroga) é um samba meio quebrado, meio
troncho, genial, todo Lenine! Badi aguarda que o cowbell e os sopros quebrem tudo,
para enaltecer a inventividade. E o arranjo se revela arrebatador!

“Olho de Peixe” (Lenine): é com essa música que Badi fecha a tampa desse que
é o melhor momento discográfico de sua carreira. Badi é extraordinária! A percussão
inicia. Efeitos vocais pontuam. Palavras são reinventadas. Certezas são revistas. E tudo
é pleno na voz de Badi que lança o verso de Lenine: “Descobrir o véu que esconde o
desconhecido”.

Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós
*https://youtu.be/JV3HCuri_VQ

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