No Recife, Tavito e Zé Rodrix em show histórico

Gilvandro Filho

O ano foi 2005 e foi no 14º dia de dezembro. Foi também a única produção da Verve, a produtora que abri pensando que o céu era perto – logo eu descobriria que sou mafioso, mas não tanto, e desisti de produções nesse Recife cansado de guerra. Mas, o que vingou valeu demais. Foi simplesmente a volta de Zé Rodrix e Tavito, juntos, a um palco. Isso, camarada, aconteceu na Mauriceia Despanaviada.

O local era bem charmoso, o Cuba do Capibaribe, restaurante do mago Paulinho Brás. Pena que não mais existe, só na cabeça dos que por ali sonharam.

O show, como não podia ser diferente, foi maravilhoso. Os dois mitos inspiradíssimos, a casa cheia, músicas antológicas. O pernambucano Zeh Rocha fez a abertura, com um repertório afiado e o talento que fez dele um dos grandes artistas dessas paragens.


Lembro de um amigo, o advogado André Santiago, que, motociclista ligado a um clube de motociclistas, babava na primeira fila quando Zé cantou Jesus Numa Moto. “É um clássico da minha geração e da minha turma”, me dizia o amigo, com lágrimas nos olhos.

Tavito – penso eu – cantou pela primeira vez, num show, o jingle Coração Verde Amarelo, aquele mesmo dos jogos da Globo. “Eu sei que vou / Vou do jeito que sei / De gol em gol / Com direito a replay…”. Composto para a Copa da 94, deu sorte à Seleção tetracampeã e nunca mais a TV largou o osso.

Tinha um cara na plateia (não lembro o nome nem a pau) que chamou atenção por ser um especialista na obra “rodrixiana”. Mal Zé começava a falar um pouco sobre a música seguinte, nosso gênio era interrompido pelo “spoiler”. “Coisas Pequenas!” “Mestre Jonas!” “Casa no Campo!”. Não perdia uma. E Zé se deliciava: “Porra! O cara conhece tudo!”

Ah, e teve Apá Silvino, apresentação especialíssima. Com Zé ao piano, minha parceira estraçalhou mostrando em primeira mão As Fronteiras do Amor, da dupla Tavito-Rodrix. Anos mais tarde, ela gravaria essa preciosidade no seu não menos precioso CD Sinal de Cais. E pra minha surpresa, e pro meu gáudio, cantou Diário de Viagem, minha segunda parceria com Tavito. Necessário mesmo dizer como fiquei?

O show, inesquecível. A presença dos dois aqui pela terrinha, inenarrável. Zé, cheio de compromissos, seguiu viagem no dia seguinte pra Sampa. Tavito ficou mais dois dias, me dando a honra de ficar na casa que eu tinha em Gravatá, na Serra das Ruças, pertinho do Recife. Lá, ele compôs (com o meu violão!) Pra que a vida aconteça, letra que fiz sobre recomeços, em cima e no dia do show dos dois mestres. Mas isto é outra conversa.

 

* Gilvandro Filho, pernambucano do Recife e de Olinda,  jornalista, compositor e caiubista de carteirinha.

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