Este texto circulou entre nós, alguns dias após a partida do Tavito, cantor, compositor, arranjador genial e assíduo frequentador dos encontros Caiubistas. Retomamos como forma de deixar rastros digitais da história deste grande artista.
Tavito, nosso doce companheiro, o mais significativo compositor que colou na turma do Clube Caiubi, pediu licença e se foi…
Seria mais do que natural uma super homenagem no site já no dia da sua passagem mas, não deu, ninguém estava com energia pra descrever Tavito. O cansaço acabou atropelando a todos, não o cansaço físico do dia a dia mas, aquele cansaço de alma que dá na gente toda vez que temos que recomeçar.
Falar que o Tavito foi um amigão seria chover no molhado, que foi um mestre, molharia ainda mais. Era mais que isso, era a definição de companheirão. Com ele a festa era mais festa e não havia encontro que ele se negasse a ir.
Tavito deixou um rastro de desilusão entre nós, marca profunda que já havia sido deixado pelo Zé Rodrix, só que acrescido de uma década a mais de convivência, um sem número de parceiros Caiubistas.
Como nos falta energia pra dizer tudo, permita-nos colar de muitos outros de nós que já disseram no facebook e outras mídias.
Gente como Gilvandro Filho, o primeiro de nós a tomar contato com a triste notícia de sua passagem.
Há quase 15 anos, num dia 6 de outubro, eu tomei coragem e mandei uma letra para um artista e compositor que eu sempre admirei muito. Eu já havia entrado na M-Musica, um grupo de discussão do Yahoo que me fez voltar a escrever para música; grupo onde eu conheceria e passaria a conviver com figuras como Zé Rodrix, Guarabyra, Luhli, Marianna Leporace, Iso Fischer, Tato Fischer, Apá Silvino, Sonekka, Celso Viáfora, Marcio Lott, Tavito.
E a tal da letra eu mandei pra Tavito. Aquele mesmo de “Casa no Campo”, de “Rua Ramalhete”, do Som Imaginário. Olha que petulância!
Tenho todo o diálogo salvo no gmail. O meu e-mail dizia assim: “Estou aos poucos voltando a fazer uma letrinhas. E fiz uma que, ao reler, achei que devia te mandar. Tu me perdoa a ousadia e recebe? Posso mandar?”.
A resposta, modesta e generosa, veio minutos depois: “Que ousadia que nada. Manda! Só não garanto a competência que vc espera…”. Imagina!
Ousadia minha, mesmo. Tavito era mestre de mestres, cheio de sucessos, integrante dos lendários Clube da Esquina e Som Imaginário, autor de “Marcas do se foi” (passe um ano-novo sem cantá-la, quero ver… rsrs) e da música que me lembra até hoje que o jogo, na Globo, vai começar – “eu sei que vou, vou do jeito que eu sei…”. O cara de “Rua Ramalhete”, de “Começo, Meio e Fim”, de “Casa no Campo”!!
A letra seguiu e 12 dias depois recebi dele outro e-mail: “(…) acabei de fazer, tô empolgado, espera até amanhã que é ‘preu’ ver se é bom mesmo ou ilusão de momento. Pela minha experiência, sei não…”. E no final daquele mês eu recebi a mp3 da canção (“Lua do Capibaribe”) com melodia daquele gênio. Craque. Generoso, como ele sempre foi.
Estava inaugurada minha parceria musical com Tavito, um troço meio sonho que, na boa, eu nunca pensei que aconteceria. Mais do que isso, ganhei um amigo-irmão. Ganhei uma parceria de vida, como ele diz. Privilégio meu, aquela música foi só o começo. Vieram, ao todo, 10 canções. Número redondinho.
Antes de ser editado, parte deste texto falava do aniversário de Tavito. Hoje, a pauta, exatamente o contrário, é a partida dele. Doido demais. Doído demais.
Como disse no texto original, acho meio cabotino a gente escrever sobre um alguém como ele e ilustrar com uma música própria, da gente. Mas, não tem jeito. O orgulho de ser parceiro dele, assim de tê-lo como irmão, faz-me relevar essa “petulância”e postar uma de nossas crias.
A canção aí tem uma pequena história. Em dezembro de 2005, tive o privilégio de trazer dois gigantes, Tavito e Zé Rodrix, para um show aqui no Recife, no extinto Cuba do Capibaribe, do amigo Paulo Braz. No dia seguinte ao show, escrevi uma letra que falava em recomeço, renovação de vida, renascer sempre. Os “musos” eram eles dois que voltavam a fazer shows juntos e a encarar o mercado do disco. No fim de semana seguinte, Tavito foi para uma casa que eu tinha no interior, em Gravatá. Lá, com o meu violão (hoje, peça em meu museu afetivo), Tavito finalizou a melodia e fechamos a parceria.
Hoje, “Pra que a vida aconteça” (na voz imensa de Marcio Lott) evoca o renascer que temos que enfrentar, diariamente. Sobretudo quando perdemos um Tavito, o que é nada fácil.
Na tua Luz, meu querido amigo, irmão e parceiro!
A genialidade de Tavito só encontra dimensão semelhante na sua generosidade. Além das 10 canções que fizemos juntos, ele deixa registradas duas gravações que fez para um projeto que tenho de versões. São duas antigas canções de Lennon&McCartney (“I’ll Follow The Sun” e “Things We Said Today”). O grande Tavito, apaixonado pelos Beatles feito eu, não pensou duas vezes e acatou meu pedido, fazendo arranjo e pondo voz. Um privilégio que registro, emocionado e absolutamente grato.
*Fiz um trato com Sonekka e falo de Tavito no presente.
Teju Franco
Meu deus, que tristeza! A ultima vez que o encontrei na casa do Sonekka Osmar Lazarini, em nossas rodinhas de violão, ele disse que estava fazendo academia de tiozinho, todo animado, com aquele ar de garotão que o acompanhava e parecia eterno.
Provei mais uma noite do seu senso de humor único, sua maneira afetuosa de ser e tratar a gente, tocamos, cantamos, passamos a viola na roda como de costume, tinha o Celso Viáfora, a Eliane Viafora e o Ricardo Carvalho, não sei se o vi depois disso. Era sempre delicioso estar ao lado dele, tinha um mistério de juventude eterna ali, não por acaso seu eterno hit, era como voltar pra escola, para os bailinhos, para os anos sessenta, mesmo em espectros políticos diferentes sempre nos demos bem, sempre me rendia a esse cara sedutor, acho que era reciproco, no Caiubi sempre acabávamos na mesma mesa, eu gosto de ouvir as histórias da MPB e o repertório vasto dele e a sua maneira única e bem humorada de narrar cada passagem me transformava em dois ouvidos ávidos.
Estranhei quando Sonekka organizou um show tributo ao Zé Rodrix e Tavito não foi, ele era sempre presente, sempre disposto, assanhado, generoso. Vai ser estranho demais viver sem ele por perto, mesmo não sendo uma pessoa tão próxima a mim, ele despertava na gente uma cumplicidade escolar, uma sensação de estar com amigo de escola e aventuras. Acabaram às tardes no muro do Sacre Couer, os bailinhos do clube da esquina, da garagem de casa, o tempo não vai mais nos beijar com músicas novas de Tavito Carvalho, que me deixou um parceiro valioso o Gilvandro Filho. Fico por aqui, esgotei meu estoque de letras com lágrimas. .
Renato Teixeira
https://www.facebook.com/renato.teixeira.12/videos/10213908568017222/
Leo Nogueira
https://oxdopoema.blogspot.com/2011/01/ninguem-me-conhece-tavito-cantando-as.html
Rica Soares
Obrigado, meu amigo, por todas as vivências e todas as conversas, ainda que a saudade maior será das parcerias que não fizemos e das tantas conversas que ainda teríamos. Torce pela gente aí de cima.